22 de abril de 1992. Esta foi a data em que eu comecei a trabalhar na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), por mim apelidada de Universidade Federal Sado-Masoquista! Declino do direito de explicar o porquê… Entrava, então, para o famigerado universo da universidade “pública, gratuita e de qualidade” (sic!). Ainda não fazia parte da república dos “ph-deuses”. Com a graça de Deus, e um tanto de esforço próprio, tenho conseguido manter-me fora desta “república”. Bom… No começo, como se diz por aí, “cheio de amor pra dar”, eu acreditava que a “academia” era um “espaço” em que eu poderia dar e chancelar a minha “contribuição intelecual”. A sala de aula era o “meu espaço” (continua sendo!) e lá eu “cantava de galo” (continuo cantando?!). Já fui carrasco, já fui o “temor das multidões”, já ouvi muito xingamento, já ouvi elogios, já passei por poucas e boas. Quem ainda não?! Mas as surpresas continuam, como a quem vem de lá, do sul, dos pampas, na letra de uma amiga (ex-aluna) e que me fez, mais uma vez, pensar nisso: dar aulas, ensinar, formar, educar e quejandos!
As cuidadoras do meu pai já provocaram inúmeros dissabores, mas, às vezes, aparecem umas criaturas que, sinceramente…
A cuidadora me indaga: – A senhora é professora?
Eu: Sim, sou professora de literatura.
Ela: Aiiinnnn….literatura? Odeio!!!
Eu: É…também posso dar aula de língua portuguesa…
Ela: Também não gosto!
Eu (adorando provocar!): Então, tu deves gostar de Matemática, Física ou Química…
Ela: Não, imagina!.. Se, um dia, eu for alguém na vida, eu quero ser professora de Letras.
Silêncio…meus neurônios tiveram dificuldade para processar a informação.
Eu (com a cara mais séria do mundo): E o que faz uma professora de Letras?
Ela (peito estufado, cheia de sabedoria): Ora, lida com poesia…
Eu: Mas que tipo de poesia?
Ela: Ora, só tem um tipo de poesia, né? Aquela com rimas…
Eu: Ah, sei…”Amor é fogo que arde sem se ver / é ferida que dói e não se sente / é um contentamento descontente…”. Conhece?
Ela: Não, nunca ouvi. Eu gosto é de poesia parnasiana, aquelas que são feitas com rimas, em sonetos, que nem o Vinícius de Moraes.
Eu: Ah… (meus neurônios não admitiram a possibilidade de aprofundar a questão!).
Fiquei rindo da situação inusitada, mas não posso negar que me preocupei: o que será que estão ensinando, nas escolas, como sendo literatura?
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