Finalmente o dia da apresentação. Faz quase trinta anos que experimentei pela primeira vez a ansiedade da chegada do dia de apresentar um trabalho num congresso. A primeira vez jamais foi esquecida: éramos cinco à mesa e duas pessoas assistindo. Uma delas era minha “desorientadora” de doutorado; a outra, um amigo, ou melhor, ex-amigo. Hoje não sei por onde ele anda: “enlouqueceu” – clinicamente falando – e foi aposentado por invalidez… triste ironia.
Pois não ficou muito diferente. Os “notáveis” só se assistem uns aos outros ou, quando muito, por dever de ofício e obrigação de mútuo favor, aos orientandos dos “pares”. Uma confraria… A madame ficou até o fim da “apresentação” de seu ex-aluno. Havia alguma coisa estranha naquele rapaz, muito estranha. Comecei a ler e com dez minutos ela se retirou enfadada. Mais uns e outros fizeram o mesmo trajeto. Minha ex-aluna e sua orientadora, minha colega, ficaram até o fim, mas nem sequer manifestaram o mínimo desejo de dizer alguma coisa. Menos mal. Mesmo tendo saltado cinco parágrafos, gastei mais tempo que o outro, que veio me cumprimentar ao final. Elogiou protocolarmente e se retirou. Agora estou aqui, a pensar na futilidade disso tudo e um tanto ansioso por ter trocado de pasta com um ex-colega do sul. Peguei a dele por acaso…