Acabo de receber a notícia do falecimento de Márcia Hope Navarro. Uma mulher que conheci em Santa MariaRS, com quem me encontrei algumas vezes ao longo dos anos e que admirava, mesmo à distância. Uma mulher bonita. Ela se foi, num momento de muito sofrimento, mas com muita serenidade, segundo a notícia que recebi. Falar de morte é complexo, pois a gente sempre se diz “preparado”, sempre acreditar estar “se preparando”, mas ela sempre noa apanha um momento inesperado, por mais anunciada que se faça. A perda é um choque, sempre. Depois da notícia triste, recebo mensagem eletrônica de Criz Otoya, que repassa comentário de uma amiga sua. As duas coisas me tocaram, cada uma a seu modo, mas instaurando a certeza de certa “lógica”, ainda que oculta, ou implícita. Abaixo, o texto da mensagem repassada, para reflexão…
“Regina é uma pessoa altamente qualificada. Não é qualquer uma “achando” isso ou aquilo. Voltei da Coreia, e ainda estou sob o impacto da viagem…Pra mim que fui olhar educação regular e profissional foi um choque… Uma massa de menininhos sendo super bem formada sobretudo em matemática e ciência. Escolas publicas super estruturadas, professores muito bem qualificados e remunerados decentemente, museus de ciência maravilhosos e super
interativos, muiiiito estudo (tudo bem que tem o apoio e ate a pressão da família, mas eles gostam de estudar, a verdade e essa. Não ninguém triste na escola, nem com cara de bunda, ao contrário do que a gente gosta de supor pra desqualificar a revolução educacional que eles fizeram como mero fruto de autoritarismo. Acho que a gente confunde disciplina com autoritarismo, e liberdade com bundalele. Os garotos tem o projeto de ler 1000 livros ate o fim do Ensino Médio… Ah… A maioria das crianças tem pai e mãe, coisa boa pra ao menos ter somente os conflitos neuróticos típicos, ao invés de ser largado no mundo e cair na violência como nossos meninos pobres. Fora isso, contam com suas praticas milenares de alimentação, pra nos estranhas mas saudáveis. E engraçado ver os caras comendo e dizendo: isso e bom pros hormônios, aquilo
e bom pra memória, aquilo outro pra concentração, etc, etc. Comida tem que ser boa para o pensamento… Ainda de quebra são budistas, uma religião menos obscurantista e mais conciliada com a investigação individual sobre a vida e as descobertas cientificas, não essa nossa patética religião ocidental de Inquisição pra defender a terra quadrada, pra negar o evolucionismo, etc, etc. Alias, lindos templos budistas … Nunca consegui achar um que prestasse aqui, yoga e budismo viraram pastiche na Barra da Tijuca e Zona Sul. Sabe que até a delicadeza das mulheres me pareceu delicadeza mesmo?
Ou seja prezado, como diriam os antropólogos, a gente se conhece pelo outro, e nunca tive uma visão tão clara do quanto a sociedade brasileira adora viver só de ilusão, de uma certa fantasia sobre virtudes que já passaram do ponto há muito tempo, e obviamente mudaram de sinal: liberdade e informalidade que virou falta de respeito por tudo, tipo se achar revolucionário porque sai, xinga e bate a porta na cara do professor, ou coisas que o valha (achei o máximo ver os garotos correndo e brincando na escola, mas também sendo capazes de abaixar a cabeça pra cumprimentar o professor, lindo isso, sabe, humano, civilizado, to de saco cheio dessa rebeldia sem causa no Brasil, todo mundo se achando revolucionário porque
manda recadinho achincalhando tudo e todos na internet). E o que dizer do jogo de cintura, que acabou levando a essa ideologia de todo mundo se virando e do vale tudo pra se dar bem, corrupção de cima abaixo? (quem dera fosse só na política…). Sem falar no dinheiro fácil, a grande meta acenada pros pobres, todo mundo virar jogador de futebol e ganhar rios de dinheiro, mesmo sendo analfabeto e matando a namorada… Coisa primitiva… E o que dizer da classe media tranformando tudo em pizza, consumindo livro de auto ajuda achando que e filosofia?
Eu juro que to legal, cansei de toda essa idealização da brasilidade, e
dessa vocação do Brasil de ser o pais pra inglês ver, tudo no papel, tudo pela rama, legislação avançada, e na realidade nada, Idéias lindas… realidade feia ou superficial… Desculpe o pessimismo, mas e que trabalho com educação, e a coisa não esta fácil, tudo por fazer, talvez estivesse vendo as coisas mais coloridas se estivesse em outra área. Agora eu pergunto, será que vamos passar por outro período de crescimento em tantas áreas, industria, cultura, cinema, tecnologia, sobretudo no RJ, sem mudar nada, ficando só no clássico pagodinho e na contravenção? Não vamos aproveitar pra civilizar mais esse pais? E os negros, ficarão fora novamente das oportunidades? Alguém tem duvida de que haverá imigração? Ora, virão muitas empresas, e claro, o pais e a bola da vez com esse
mercadao inexplorado e esse mundo de recursos naturais… E virão hordas de estrangeiros também pra trabalhar… sobretudo orientais… hordas…
Escreve o que eu estou dizendo…
Sei lá, sei lá…
Beijo
Regina”