Um pouco de graça

 

Meus humores andam um tanto alterados: calor, impaciência, a loucura de algumas pessoas, a irresponsabilidade de médicos que não atendem no horário marcado (todo mundo sabe que se a gente atrasa, perde a vez!)… Pra não retomar minhas postagens nesse “clima”, resolvi colocar aqui uma postagem (nossalinguabrasileira.wordpress.com) alheia que li agorinha… É divertida! Aí vai:

 

“Língua brasileira

autor: Kledir Ramil

Outro dia eu vinha pela rua e encontrei um mandinho, um guri desses que andam sem carpim, de bragueta aberta, soltando pandorga. Eu vinha de bici, descendo a lomba pra ir na lancheria comprar umas bergamotas…’ Se você não é gaúcho, provavelmente não entendeu nada do que eu estava contando.

No Rio Grande do Sul a gente chama tangerina de bergamota e carne moída de guisado. Bidê, que a maioria usa no banheiro, é nome que nós demos para a mesinha de cabeceira, que em alguns lugares chamam de criado-mudo. E por aí vai. A privada, nós chamamos de patente. Dizem que começou com a chegada dos primeiros vasos sanitários de louça, vindos da Inglaterra, que traziam impresso ‘Patent’ número tal. E pegou.

Ir aos pés no RS é fazer cocô. Eu acho tri elegante, poético. ‘Com licença, vou aos pés e já volto’. Uma amiga carioca foi passear em Porto Alegre e precisou de um médico. A primeira coisa que ele perguntou foi: ‘Vais aos pés normalmente, minha filha?’ Ela na mesma hora levantou e começou a fazer flexão.

O Brasil tem dessas coisas, é um país maravilhoso, com o português como língua oficial, mas cheio de dialetos diferentes. No Rio de Janeiro é ‘e aí merrmão! CB, sangue bom!’ Até eu entender que merrmão era “meu irmão” levou tempo. Pra conseguir se comunicar, além de arranhar a garganta com o ‘erre’, você precisa aprender a chiar que nem chaleira velha: ‘vai rolá umasch paradasch inschperrtasch.’.

Na cidade de São Paulo eles botam um ‘i’ a mais na frente do ‘n’: ‘ôrra meu! Tô por deintro, mas não tô inteindeindo o que eu tô veindo’. E no interiorr falam um ‘erre’ todo enrolado: ‘a Ferrrnanda marrrcô a porrrteira’. Dá um nó na língua. A vantagem é que a pronúncia deles no inglês é ótima.

Em Mins, quer dizer em Minas, eles engolem letras e falam Belzonte, Nossenhora. Doidemais da conta, sô! Qualquer objeto é chamado de trem. Lembrei daquela história do mineirinho na plataforma da estação. Quando ouviu um apito, falou apontando as malas: ‘Muié, pega os trem que o bicho ta vindo’.

No Nordeste é tudo meu rei, bichinho, ó xente. Pai é painho, mãe é mainha, vó évóinha. E pra você conseguir falar com o acento típico da região, é só cantar a primeira sílaba de qualquer palavra numa nota mais aguda que as seguintes. As frases são sempre em escala descendente, ao contrário do sotaque gaúcho.

Mas o lugar mais interessante de todos é Florianópolis, um paraíso sobre a terra, abençoado por Nossa Senhora do Desterro. Os nativos tradicionais, conhecidos como Manezinhos da Ilha, têm o linguajar mais simpático da nossa língua brasileira. Chamam lagartixa de crocodilinho de parede. Helicóptero é avião de rosca (quedeve ser lido rôschca). Carne moída é boi ralado. Se você quiser um pastel de carne, precisa pedir um envelope de boi ralado. Telefone público, o popular orelhão, é conhecido como poste de prosa e a ficha de telefone é pastilha de prosa. Ovo eles chamam de semente de galinha e motel é lugar de instantinho. Dizem que isso tudo vem da colonização açoriana, inclusive a pronúncia deliciosa de algumas expressões, como ‘si quéisch quéisch, si não quéisch, disch’.

Se você estiver por lá, viajando de carro, e precisar de alguma informação sobre a estrada pra voltar pra casa, deve perguntar pela ‘Briói’, como é conhecida a BR-101.

Em Porto Alegre, uma empresa tentou lançar um serviço de entrega a domicílio de comida chinesa, o Tele China. Só que um dos significados de china no RS é prostituta. Claro que não deu certo. Imagina a confusão, um cara liga às duas da manhã, a fim de uma loira, e recebe como sugestão Frango Xadrez com Rolinho Primavera e Banana Caramelada.

Tudo isso é muito engraçado, mas às vezes dá problema sério. A primeira vez que minha mãe foi ao Rio de Janeiro, entrou numa padaria e pediu: ‘Me dá um cacete!!!. Cacete pra nós é pão francês. O padeiro caiu na risada, chamou-a num canto e tentou contornar a situação. Ela ingenuamente emendou: ‘Mas o senhor não tem pelo menos um cacetinho?

(N. do T. – mandinho é garoto, carpim é meia, bragueta é braguilha, pandorga é pipa, bici é bicicleta, lomba é ladeira, lancheria é lanchonete.)”

3 respostas para “Um pouco de graça”

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