Hoje é dia de poesia, de novo! Sei não… Acordei meio assim… Corrigi trabalhos, olhei a paisagem, sinto um resfriado se aproximando… Lembro de detalhes da relação efêmera e ocasional com um colega de universidade que morreu no sábado passado. Que triste, para uma blague com o itabirano. Daí a sensação inconsciente de passado, de tempo passado, de infância e de tantas inocências que vão sendo deixadas pra trás… Se mais comentários, o poema (mesmo com dúvidas sobre a composição das estrofes, pois não estou copiando do livro):
Infância
Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.
No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala – e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.
Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
– Psiu… Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro… que fundo!
Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.
E eu não sabia que a minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.
(Poesia e prosa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1988.)