Das muitas leituras que tenho feito, uma se sobressai. Na verdade, uma releitura: Os Maias, do Eça de Queirós. Reli porque o Mário Cláudio comentou sobre uma passagem que abria espaço para uma abordagem de cero clima homoerótico na relação entre Carlos da Maia e seu amigo o Ega. Pois é, reli todo o romance, não sem pouco prazer, é claro, mas não me dei conta de tal passagem. Simplesmente não a “li”. Isso já tinha acontecido outra vez. Ainda fazia o doutorado e fui preparar um seminário sobre tradução, quando Veronika, fazendo alguns comentários sobre o assunto, mencionou certa passagem de Dr. Fausto, do Thomas Mann. Ela diz que a tradução publicada pela Nova Fronteira, àquela altura, estava muito boa. Pois peguei o livro e fui ler: um cartapácio. Li-o todo e não consegui pousar minhas fatigadas retinas sobre tal passagem…
De qualquer maneira, a releitura de Os Maias me fez reter duas ou três passagens. Cada um sabe o que elas podem representar…
“Afonso não respondeu: olhava cabisbaixo aquela sombrinha escarlate que agora se inclinava sobre Pedro, quase o escondia, parecia envolve-lo todo – como uma larga mancha de sangue alastrando a caleche sob o verde triste das ramas.” (O prenúncio da tragédia que culminará o romance)
“Os dois velhos abraçaram-se, depois de um momento os seus olhos encontraram-se, vivos e húmidos, e tornaram a apertar-se comovidos.”
O final do terceiro capítulo do romance insere a peripécia que vai se desfazer do meio para o final do romance. Com a volta de Maria Monforte, a mentira da morte de Maria Eduarda se desfaz e a tragédia anunciada se “realiza”.