Retorno

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Depois de seis meses, estou de volta. Ainda sinto os pés pisando em nuvens, como se, de alguma hora para outra, tudo fosse mudar. Mas sei que não vai e isso é bom! cento e oitenta dias que vão fazer História, não para muita gente, mas… E os cinco dias sevilhanos vão durar ainda um bom tempo retumbando na alma… De tudo fica sempre alguma coisa, ou muita coisa. Tento retomar o ritmo e desejo mante-lo. A ver…! De quebra vai um poema do Herberto Helder, poeta português, recentemente falecido, cuja obra comecei a ler e tem me impressionado.

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Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
— a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
— Embaixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
— E o poema faz-se contra o tempo e a carne.

6 respostas para “Retorno”

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