Ontem, pensei em escrever uma postagem comentando sobre algumas atitudes do novo presidente da Áustria. Não o fiz por dois motivos: não consegui chegar em casa em tempo hábil e o calor estava insuportável e eu estava com fome e eu estava com preguiça – como se esta fosse uma novidade; e porque não consegui localizar a publicação em que vi a notícia sobre a qual queria fazer o comentário; se bem me lembro, o que li falava sobre as atitudes, que não sei se verdadeiras, levaram a quem fez a publicação (devo admitir que nem Hércules conseguiria dizer sobre a veracidade desse “fato”, se é mesmo verdade… isso é mais coisa daquele outro, o Sísifo, coitado, condenado a carregar a pedra morro acima. Na mitologia, pelo menos, alguém é condenado e cumpre pena… pela eternidade!) a comentar que se tratava de um posicionamento extremista “de direita”.. Pois bem. O que li falava sobre as tais medidas. Lembro-me, salvo equívoco mnemônico, de duas delas: uma foi cortar os benefícios de turistas (nem sempre acidentais) que recebiam tratamento médico gratuito como qualquer cidadão austríaco. Não. Definitivamente não! De acordo com o tal sujeito, turistas passariam a pagar pelos serviços médicos. Devo dizer que, ajudando uma aluna, presenciei a efetividade de tal medida como certa, em Portugal. Coimbra, mais especificamente. Parece-me bastante razoável e procedente. Afinal, turista prevenido não deixa seu país sem ter feito um seguro, por menos tempo que vá quedar-se em terras estrangeiras! A segunda medida, mais contundente – inclusive pelo tom bombástico do texto que li – anunciava que o tal presidente, diante de uma população numerosa de presidiários, teria anunciado que a partir de sua administração, todos os presos iriam trabalhar para saldar a dívida moral que contraíram diante da sociedade austríaca, ao se tornarem criminosos. Outra vez, faço eco: justo, coerente e sensato. Não sei dizer se isso é mesmo verdade. Sei menos ainda para poder afirmar que tais medidas tiveram o sucesso almejado, se atingiram os objetivos pressupostos quando de sua instituição. Nada sei sobre a veracidade fatual de tais decisões! Penso, muito à distância, que o comentário que li sobre a notícia, causou-me espécie. Dizia a assertiva que a Áustria tinha eleito seu primeiro presidente de extrema direita. Fiquei a pensar… Direita? Por quê? Qual a fundamentação para argumentar tão polarizadamente? A minha dúvida, ainda que infundada e/ou ingênua, recai sobre o porquê da “classificação” de extrema direita para atitudes e decisões de tão amplo espectro e influência. Ando meio assim com esse tipo de polarização. Já não chega? Por que é que as coisas têm que ser reduzidas à dicotomia branco e preto, alto e baixo, fino e grosso, claro e escuro, longe e perto e que tais? Isso é cansativo, é chato, é sem graça… um porre… Mas acontece. E está a acontecer. Todos os dias, na cara de todo mundo. E o pior é que parece não mudar. Parece que nada muda. Que nada pode ser abordado na perspectiva de mudança, de modificação, para o bem ou para o mal… Olha a dicotomia aí. O mundo não pode continuar se reduzindo a um maniqueísmo rasteiro, pobre, vulgar, superficial, frívolo e perverso ao mesmo tempo. Essa é uma dobra importante a considerar: o embate entre a frivolidade e a perversão. Onde é que se pode ficar com certa tranquilidade, certa paz de espírito, um pouco de alegria… Parece que não é mais permitido a ninguém gozar com seus próprios erros. Escuto ecos de Lacan? Pois que assim seja. Ao fim e ao cabo, tudo termina em pó. Morre um gênio e nasce um canalha. Os papéis podem ser trocados, mas a dinâmica é contínua e incontrolável, até certo ponto. Haverá a possibilidade de um dia assumir-se tal controle? Isso será bom? Ou ruim? Quem viver verá…
Ontem, enquanto matutava sobre o queria escrever assassinaram a vereadora carioca. Não consigo dizer palavra sobre isso, de tão chocado…
2 respostas para “Os lados de uma moeda quadrada”
O assassinato da vereadora tem tudo a ver com o que você escreveu sobre o presidente austríaco, no quesito polarização. Que aliás já anda profundamente apodrecida e a cheirar mal, pois aqui, no paraíso(?) tropical, não importa se o político é de direita ou de esquerda, de frente ou de costas, do direito ou do avesso. Todos operam do mesmo jeito, em favor do próprio bolso e os de seus afetos. Nós, cidadãos honestos, sustentamos o crime nas cadeias, já que ninguém trabalha naquelas pocilgas, a não ser para o clã mafioso a que pertence. E o Brasil segue, essa maravilha que nos deixa entusiasmados e plenos e felicidade… Nem vou mandar beijinho hoje. Só cordiais saudações.
Ótimo post !