Enquanto ando, as quarenta voltas em torno de casa,penso num monte de coisas. As mais variadas, numa sequência caótica que obedece, apenas, ao sabor da vontade de acabar logo com essa chatice (dizem que absolutamente saudável) que é caminhar. Hoje, neste percurso diuturno, pensei nesse poema que escrevi, sem revisão…
Sou poeta de ocasião, como denegava Drummond
em sua procura.
Sou poema do senso,
da visão e do tato, do sentir
o que não se diz.
Um poeta que não emerge da imersão das palavras
que caem, uma a uma,
de um penhasco imaginário, de onde
verte o desejo de qualquer coisa
que faz a ocasião
do poeta.
Ser um poeta, assim, não vale pena (?)
se a queda da palavra não faz
pulverizar o sentido que faz a ação do poeta alçar
voo de coisa densa, matéria que se diz,
à revelia do mesmo poeta.
E a poesia não se faz, assim,
como do poeta a imaginação, criatura de consequência,
de objetivo, de ponto de fuga.
A poesia segue o poeta e lhe indica os caminhos a não seguir
Por aqueles que leem o poema e lhe dão, de lambujem,
algum valor,
se valor existe para/em poesia.
Poeta e poema, siameses descosturados
que se tateiam,
almas vãs que se mapeiam,
ainda que na rima deslizante e má.
Na procura vã de se encontrar
no limbo do sentido, mais além,
antes porém de qualquer coisa que passa
pelo dizer.
Num ciclo sem vício, insidioso,
maquiavélico e sutil, nervoso. Rimado no descuido
inaugura, sempre e mais,
pela palavra.
Uma resposta para “Poema de estalo”
Caminhar faz bem para a inspiração também. Belo poema. Beijinho.