Três caminhos

Iris, com Judy Dench; Still Alice, com Julianne Moore e Vivir dos veces, com Oscar Martínez ator não “conhecido” em Hollywood (que eu saiba). Três lições sobre um mal que assombra a humanidade: Alzheimer. Os três filmes são contemplados com desempenhos impecáveis dos atores que vivem os protagonistas: Iris, Alice e Emílio, na ordem. Haveria muito o que dizer sobre os pontos em comum entre as três narrativas. De início, o óbvio, as três desenvolvem-se a partir da constatação do desenvolvimento da patologia ligada ao Alzheimer em universos distintos: o mundo da filosofia/poesia e o mundo da universidade Linguística e Matemática). No segundo, uma pequena nuance: Alice ainda é uma professora ativa, Emílio já está aposentado. No mais, as diferenças são muitas. Alice convive com sua família, digamos, de maneira intensa. Já Emílio, vive só e sua relação familiar se reduz a uma filha, acompanhada de genro e neta, mas não convivem “intensamente”. Ao contrário… Iris é uma escritora/filósofa que vive com seu marido. Não me lembro de filhos e/ou outros parentes. E só. No campo das diferenças, há que apontar a sensibilidade no tratamento do tema que se percebe no caso de Iris. Já Alice, é objeto de um tratamento, digamos, um tanto moralista demais, como soe acontecer no cinema norte-americano, tout court. Emílio é um homem que encarna, até onde eu sei, de maneira bastante convincente os males associados a esta patologia ainda misteriosa, apesar de todos os avanços. No entanto, se destaca pela melancolia positiva – sem o histérico sentimento de auto superação que acompanha a narrativa norte-americana. Só para constar: Iris é um filme inglês. O filme sobre as duas mulheres, vi há mais tempo. Vivir dos veces, vi ontem, de uma sentada. Sem a menor informação sobre ele. Encontrei a foto na Netflix, cliquei e não consegui me levantar até a sequência final de uma melancolia simultaneamente acachapante e leve, triste e linda. Quase trágica, no sentido grego do termo. Não vou adiantar nada sobre os três filmes, para além do que já fiz até gora. Importa-me mais, quem sabe, gastar mais algumas linhas e, quem sabe, escapar do tédio que usualmente causo em que me lê, dado o fato de que não me submeto às “regras” de escrita na “rede”. Sou diametralmente oposto ao “quanto menos, melhor” ou seu equivalente, “menos é mais”. A diretora de Vivir dos veces, Maria Ripoli foi de uma felicidade ímpar. Escapou com brilhantismo de tratar a doença como uma sentença de morte. Por outro lado, impediu que suas personagens se perdessem em estereótipos comportamentais, o que faria de sua película mais uma do mesmo. A grande força de sua narrativa, a meu ver, é a demonstração dos caminhos tomados pela relação entre pai e filha e entre avô e neta, para conduzir o enredo pelas sendas das possibilidades pouco enxergadas quando se trata de conviver num contexto hostilizado pelo desconhecido: o tal de Alzheimer. Imponderável seria uma palavra prudentemente relevante para qualificar o ambiente mental que circunda os sujeitos envolvidos nesse miasma patológico. Neste sentido, a construção de Emílio é exemplar. Por outro lado, sua relação com filha e neta também transborda coerência e verossimilhança, segundo a mesma trilha e chegando a bom terno na sequência final do filme. Uma vez mais, não vou desfazer o prazer da descoberta de quem se sentir estimulado a ver o filme. Penso que dos três, o inglês e o espanhol são filmes mais convincentes e mais contundentes, em sentido profundo. O norte-americano, em que pese a impecável Julianne Moore, realmente impecável, se perde naqueles estereótipos tão conhecidos de quem se vê no embate de um mal ainda tão desconhecido. Vale a pena, inclusive, com algumas lágrimas que, sentidas, desempenham seu papel catártico como bem prenunciam em priscas eras um sujeito mais que interessante e necessário, conhecido pelo nome de Aristóteles. A ver!

2 respostas para “Três caminhos”

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