21

Os ecos da colônia: passos empoeirados no lajedo – mistura de pedra sabão e pedra são Tomé – guarda de uma História que jamais vai ser contada. as palavras trocadas entre as paredes caiadas. O pranto silente que evanesce em vapor do espírito e sobe. O teto com ferro de esteira absorve, mudo, o passar das dúvidas e dos arroubos. Portas e postigos de janela em azul colonial. Ainda que com vários vidros quebrados. testemunho da passagem do último síndico que atendeu pela alcunha de diretor. As peias de aranha nos cantos. O cheiro de mofo. as luminárias pendentes, Contraste absurdo que, em nome do absurdo, testemunham o nada que modifica cada segundo ali passado. O frio. O vento encanado. Paredes que não se encontram com o teto, mediação das esteiras. Centenárias. Paredes incompletas. Tudo se ouve, a não ser o sussurrado. Os sussurros da maga patalógica. Sussurro de mestre. Não. Sussurro doutoral. Os óculos na ponta do nariz. Os cabelos enormes, esbranquiçados, desgrenhados. Como os daquela cantora antes do show. Mas sem o talento. A mesma compleição física, mas sem o talento. O sussurro que vinha da boca de chupar ovo. Para não ser deselegante. Ovo. Os sussurros e o olhar matreiro de quem sempre tira o seu da reta. O sorrisinho falso, longe da Gioconda. Os arranjos. Os sussurros. Os formulários e a verborreia jurídica. A predisposição para a guarda dos direitos de classe. Uma história mal contada. A inexplicável mudança de uma “casa” para outra. A chegada no porto dos tempos. Sobre o lajedo – mistura de pedra sabão e pedra são Tomé. Os passos escorregadios das atitudes questionáveis. O sorrisinho matreiro Os formulários.  preciso preencher corretamente os formulários. É preciso anexas os comprovantes. É preciso levar até lá. O departamento não tem secretária. Eu não posso fazer tudo. O malote não é confiável. Já há denúncias de desvio de documentos. Cada um faz o seu. O sorrisinho falso. A insistência em chamar a progressão de concurso. estupidez? Veneno concentrado. Os passinhos no lajedo frio. Os corredores que não se ligam, ao teto. A insistência na burocracia Sempre colocando os outros em situações vexatórias, impopulares, ilegais. O pedido de doação aos “ocupantes”. A necessidade de se solidarizar com o corpo docente. O discurso encomendado entre os olhinhos fingidos e o sorrisinho matreiro. O sotaque execrável. A boca de chupar ovo. Be,… ovo, que seja. Os documentos. “Que merda. Não vou fazer porra nenhuma. O que essa mulher zinha quer. Vai encher o saco do bispo. Que merda!”. A dúvida do colega. A mulher que foi eleita pelos pares. A tiranete de cabelos desgrenhados. O sorrisinho falso no cumprimento pela titularidade. Os cabelos desgrenhados passeando pelos corredores frios e empoeirados. As paredes escutando. Os berros. A cara de sonsa. E no outro dia a exaltação. “O departamento não tem dinheiro”. A defesa dos “pobres estudantes”. Café com os ocupantes. Sorrisos e piadas. Gargalhadas. Os cabelos desgrenhados. Os gritos histéricos ao comunicar a carta alheia. A braveza. O surto de tirania. Os cabelos desgrenhados balançando aos gestos bruscos. Os óculos na boca do nariz. A cara de sonsa durante o despautério. “Tá achando que preciso desse dinheiro. Caguei pra esse dinheiro. quer que preencha todos os quadradinhos. Eu faço. Pronto. Não enche o saco”. As mãozinhas postas como criança assustada. A boca de chupar ovo e os cabelos desgrenhados. O silêncio nos passos frios na volta do gabinete. Os sussurros. O papel preenchido. Completo. Todos os quadradinhos. O sorrisinho de alegria e contentamento. A insistência em chamar de concurso ao processo de progressão. O dedo em riste. Os cabelos amarrados na nuca e os óculos na ponta do nariz. Maga patalógica. E a tirania que se sobrepunha ao silêncio dos ambientes forrados de esteira. as portas batendo. Os sussurros. O lajedo frio e empoeirado a testemunhar os desmandos, as falsidades, as tramas e os subterfúgios. A falta de talento. O cabelo desgrenhado. Os formulários. “Você tem que dizer o que está fazendo nos horários vagos. Não pode deixar em branco. É exigência da administração”. A falsa subserviência. O ar de vítima com olhinhos matreiros e sorrisinho falso. As mãos postas no colo. Saiu num pulo. Um corisco no escuro dos corredores fios, por sobre o lajedo empoeirado. O susto do colega. “Essa vaca que vocês elegeram. Vaca”. As paredes que escutam. O bater de portas. Cadeiras arrastadas. Portas batidas O lajedo empoeirado e frio. Claro que chegou a seus ouvidos. “Eu não votei nela!). Gritos. Portas batendo. A lembrança das gargalhadas com os ocupantes. A cara de séria ao falar dos direitos de classe. O ar melancólico de quem finge subserviência e exploração. O acúmulo de trabalho no discurso carregados de chavões. Lugar comum. O vento que passeia pelas paredes brancas que não encontram o teto. O forro de esteira. O lajedo frio e empoeirado. Acabou.

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