Mais de uma semana sem escrever nada aqui. Para não deixar a preguiça paralisar de vez a minha escrita, volto hoje. Marco de Matteo, amigo paulistano, colocou em sua página do feicibuqui uma postagem de Vania Maria Souza Cunha (Historeando
23 de agosto às 19:07). Eu reproduzo aqui. Gostei. Compartilho, por interessante! Espero que seja do agrado de quem chegar a ler esta postagem.
“Por que você fala assim?
O ‘R’ caipira do interior de SP, MT, MG, PR e SC deve-se aos indígenas que aqui moravam não conseguiam falar o ‘R’ dos portugueses, não havia o som dessa letra em muitos dos mais de 1200 idiomas da região. Então na tentativa de se pronunciar o R, acabou-se criando essa jabuticaba brasileira, que não existe em Portugal. A isso também se deve o fato de muitas pessoas até hoje em dia trocarem L por R, como em farta (falta) e frecha (flecha). Com a chegada de italianos à SP o sotaque do paulistano incorporou o R vibrante atrás dos dentes, porta como ‘porita’, e em alguns casos até incorporando mais Rs: carro como ‘caRRRo’, se quem fala for de Mooca, Brás e Bexiga, bairros com bastante influência italiana.
O R falado no RJ deve-se ao fato de que quando a Corte portuguesa pisou aqui, a moda era falar o R como dos franceses, saindo do fundo da garganta, como: ‘PaRRRRi’. A elite carioca tratou de copiar a nobreza, e assim, na contramão do R caipira e 100% brasileiro, o importou seu som de R dos franceses. Do mesmo modo a Realeza trouxe o ‘S’ chiado dos cariocas. As regiões Norte e Sul receberam a partir do século XVII imigrantes dos Açores e ilha da Madeira, lugares onde o S também vira SH. Viviam mais de 15 mil portugueses no Pará, 4ª maior população portuguesa no Brasil à época, o que fez os paraenses também incorporarem o chiado.
Já Porto Alegre misturava indígenas, portugueses, espanhóis e depois alemães e italianos, toda essa mistura resultou num sotaque sem chiamento.
Curitiba recebeu muitos ucranianos e poloneses, a falta de vogais nos idiomas desses povos acabou estimulando uma pronúncia mais pausada de vogais como o E, para que se fizessem entender, dando origem ao folclórico ‘leitE quentE’.
Em Cuiabá e outras cidades do interior do Mato Grosso preservou-se o sotaque de Cabral, não sendo incomum os moradores falando de um ‘djeito diferentE’. Os portugueses que se instalaram ali vieram do norte de Portugal e inseriam T antes de CH e D antes de J. E até ‘hodje os cuiabanos tchamam feijão de fedjão’.
Junto com os 800 mil escravos também foram trazidos seus falares, e sua influência que perdura até hoje em se comer o R no final das palavras: Salvadô, amô, calô e a destruição de vogal em ditongos: lavôra, chêro, bêjo, pôco, que aparece em muitos dialetos africanos.
A falta de plurais, o uso do gerúndio sem falar o D (andano, fazeno), a ligação de fonemas em som de z (ozóio, foi simbora) e a simplificação da terceira pessoa do plural (disséro, cantaro) também são heranças africanas.”
(Do livro Mapa Linguístico do Brasil, de Renato Mendonça.)