Primeira versão

Segue a primeira versão de um poema (comentários e palpites continuam a ser esperados).

“Sem sentido”

Uma tarde que passa

como as demais que também passam

repetindo a mesma ritmada canção muda,

a que embala quimeras e decepções

num paul inquieto de ilusões e temores

de gente que vive a trabalhar sem tino, rumores

daquilo que podia ter sido.

Não é, decerto,

o melhor dos sonhos a envolver o dia

de quem acorda sem saber o primeiro passo

já tendo dado os seguintes na inversão

que nada altera, nem ilustra, nem seduz.

Um passo, e só isso

a reverberar na música surda das letras que pululam

entre vírgulas e ideias estapafúrdias 

(ainda que não seja poético falar assim).

Ah, o barulho do mar que não encobre

o pio da coruja que

ao contrário da outra, a do sertão, não assusta

quase diviniza a maré que ressoa,

brisa sudeste a anunciar bom tempo

e a melancolia de rever os dias,

revisitar os mortos,

sonhar o impossível.

Não há mais panteras presas

e olhares temerosos

guardando a raiva felina que, recalcada,

rescende a vingança, sem ter havido crime.

A natureza não há mais.

Não há mais modo de escuta, olhar complacente

só o alarido das verdades individuais

gritos num labirinto com identificação de saída,

mas a cegueira não deixa ver…

nem o voo mais alto que poderia,

se alentado, sobreviver 

ao rasteiro caos

que se instaura e insiste e fere

interfere incólume sem se abater.

Rima impossível.

Quero a rima impossível

escrita num poema cego e surdo

com letras mortas,

a apagar qualquer sentido

dando ordem a tudo

e, ainda assim, não satisfaz o querer,

do poema.

4 respostas para “Primeira versão”

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