A propósito de cravos

Li o poema que segue por indicação de um amigo muito querido. Conhecia a autora de nome. Fiquei impressionado. No tsunami de preguiça e falta de vontade em que me encontro, pensei em compartilhar os versos, magníficos desta portuguesa de uns tantos costados. Fica, também, como homenagem à data de hoje, importantíssima para o povo português. Salve 25 e abril!

Meditação do Duque de Gândia sobre a morte de Isabel de Portugal

Nunca mais 

A tua face será pura, limpa e viva 

Nem o teu andar como onda fugitiva 

Se poderá nos passos do tempo tecer. 

E nunca mais darei ao tempo a minha vida. 

Nunca mais servirei Senhor que possa morrer. 

A luz da tarde mostra-me os destroços 

Do teu ser. Em breve a podridão 

Beberá os teus olhos e os teus ossos 

Tomando a tua mão na sua mão. 

Nunca mais amarei quem não possa viver 

Sempre. 

Porque eu amei como se fossem eternos 

A glória, a luz e o brilho do teu ser, 

Amei-te em verdade e transparência 

E nem sequer me resta a tua ausência, 

És um rosto de nojo e negação 

E eu fecho os olhos para não te ver. 

Nunca mais servirei Senhor que possa morrer.

(Sophia de Mello Breyner Andresen)

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