Hoje, mais cedo, vi no celular um pequeno vídeo propagandeando o novo show de Adriana Calcanhoto. Vi-a por primeira vez, ainda em Santa Maria-RS, em 1992 ou 1994, já me escapa a certeza. Depois, vi outro show seu, em Coimbra, um delírio. Agora ela vem a Belo Horizonte, em Novembro, 22. Confesso que me deu imensa vontade de ir vê-la. Aproveitaria a lei que me permite pagar meia entrada (tenho mais 60). Mas não sei… a preguiça… o amontoado de gente… a possibilidade de “manifestações” pós-eleitorais… Não sei… O fato é que tal propagando veio-me à memória agora, hora em que comumente escrevo no meu blogue – assim mesmo, com “ue” no final. Já disse que não gosto da língua de Dickens. O show se chama “A mulher do pau Brasil”. Parece até um happening – quem temais de 40 vai saber do que estou falando… Uma coisa leva à outra. Pau Brasil – Modernismo – Poesia – Manuel Bandeira. Resolvi então trazer um poema do pernambucano de que gosto imenso:
Os sapos
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os delumbra.
—
Em ronco que a terra,
Berra o sapo-boi:
— “Meu pai foi à guerra!”
— “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”
—
O sapo-tanoeiro
Parnasiano aguado,
Diz: — ” Meu cancioneiro
É bem martelado.
—
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
—
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
—
Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma.
—
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas…”
—
Urra o sapo-boi:
— “Meu pai foi rei” — “Foi!”
— “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”
—
Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
— “A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
—
Ou bem de estatutário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo.”
—
Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas:
–“Sei!” — “Não sabe!” — “Sabe!”
—
Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa;
—
Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é
—
Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio…
Claro que as onomatopeias são a cereja do bolo de qualquer aula de Literatura Brasileira, Teoria da Poesia, Literatura Comparada e que tais… No entanto, a repetição deste tópico se faz aqui para chamar a atenção da mesmice que brilha e rebrilha nos dias que correm. Mais do mesmo. De novo… a mesma coisa. Ai que chatice… Melhor ficar só com o poema…