Modorra
Se a perfeição do quadrado almeja encontrar
o ponto final da curva cíclica do desejo indolente
da esfera, pouco importa.
Sabe ele que dos quatro passos
nenhum a mais pode ser dado para negar que é impossível
ser feliz sozinho.
E é.
Antônio Carlos sorri, entre dentes.
Morde o charuto, dedilha o piano
e a curva melódica se desfaz no horizonte
que engole o mar, escondendo o plano medievo da terra
como tabuleiro.
Dois dias, tempo sem conta,
e a certeza de que ninguém goza sorrindo
destrói as esperanças de quem pensa,
sozinho,
no samba sincopado do epilético
que
bate
cabeça
e
treme,
disforme,
sobre a laje fria
da indiferença alheia,
mesmo prostrado em hasta pública.
Prostração.
Quatro séculos ou mais.
Quatro ou mais séculos.
Mais de quatro séculos.
De três formas, a mesma incerteza que se esvai
nas águas do córrego, Tejo tropical (da mesma hasta pública!)
que fede, arde, na insalubridade cotidiana,
esquecida e lembrada,
triste paradoxo,
a fazer pensar nas voltas que Cronos dá,
sem chegar a lugar algum.
Nenhum.
O sonho e o desejo, ninfas do pensamento
que não se fixa em terras desconhecidas que passam
a conhecidas pela conquista
até hoje inexplicada.
Mas consagrada,
em que pese a pobreza da rima que nada diz,
senão continuar ardendo no desejo de dizer.
O quê?
Jamais se saberá.
O poeta é mais um que delira
E se diverte em saber
Que outro(s) poeta(s) estão como ele…
2 respostas para “Poema”
Gostei muito do poema !
Que bom! Fico agradecido! Boa semana!