Hoje estou com preguiça de escrever. Dizem que a preguiça é o menos grave dos pecados… Por que ela não deixa que você cometa os outros… Pelo sim, pelo não, só não para não ficar sem escrever nada, reproduzo alguns poemas de que gosto…
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.
Soneto da separação
Vinícius de Moraes
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama
De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo, distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente
Longe
Kavafis
Quisera referir essa lembrança…
Mas já se apagou tanto… visto que nada se mantém –
pois longe, nos primeiros anos de minha adolescência, ela jaz.
Uma pele como feita de jasmim…
Aquela noite de agosto – era agosto? – aquela noite…
Mal me lembro agora dos olhos – eram, creio, azuis…
Ah! sim, azuis: um azul de safira.
O Último Poema
Manoel Bandeira
Assim eu quereria o meu último poema.
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
Brejo da cruz
Chico Buarque
A novidade
Que tem no Brejo da Cruz
É a criançada
Se alimentar de luz
Alucinados
Meninos ficando azuis
E desencarnando
Lá no Brejo da Cruz
Eletrizados
Cruzam os céus do Brasil
Na rodoviária
Assumem formas mil
Uns vendem fumo
Tem uns que viram Jesus
Muito sanfoneiro
Cego tocando blues
Uns têm saudade
E dançam maracatus
Uns atiram pedra
Outros passeiam nus
Mas há milhões desses seres
Que se disfarçam tão bem
Que ninguém pergunta
De onde essa gente vem
São jardineiros
Guardas-noturnos, casais
São passageiros
Bombeiros e babás
Já nem se lembram
Que existe um Brejo da Cruz
Que eram crianças
E que comiam luz
São faxineiros
Balançam nas construções
São bilheteiras
Baleiros e garçons
Já nem se lembram
Que existe um Brejo da Cruz
Que eram crianças
E que comiam luz
4 respostas para “Poemas”
Concordo com a preguiça em seu âmago, assim não me sinto tão culpada quando ela aparece….
Adorei passar por aqui!
Beijinhos
Bia
http://www.biaviagemambiental.blogspot.com
Que boa a sua visita! Volte sempre! Obrigado! 😉
beijinho
A preguiça fez você transcrever esses lindo poemas , então , salve a preguiça !
Salve! Salve! Salve!